Olá! Como psicóloga clínica, tenho acompanhado de perto o impacto da nossa era digital na saúde mental das pessoas. Ansiedade, depressão, e a sensação de vazio existencial são queixas cada vez mais frequentes no consultório. Mas o que será que está acontecendo? A resposta pode estar, em parte, na dopamina e na forma como nossos cérebros respondem aos estímulos do mundo moderno.
Dopamina é um neurotransmissor, uma substância química que atua como mensageiro entre os neurônios, e desempenha um papel crucial na nossa experiência de prazer, motivação e recompensa. Imagine a sensação de receber uma curtida nas redes sociais, saborear um chocolate delicioso ou finalizar uma tarefa importante. Em todos esses momentos, a dopamina é liberada em nosso cérebro, gerando uma sensação de satisfação e bem-estar.
O problema é que o excesso de estímulos prazerosos, característico da nossa era digital, pode levar a um desequilíbrio nesse sistema. Nossas mentes são bombardeadas por notificações, e-mails, mensagens, vídeos e jogos, que oferecem uma dose rápida e fácil de dopamina. Assim como uma droga, esses estímulos podem nos levar a um ciclo vicioso de busca por prazer imediato, negligenciando atividades que exigem mais esforço e proporcionam recompensas a longo prazo.
Em meu consultório, tenho visto casos como o de João, um jovem que passava horas em jogos online, isolando-se de amigos e familiares e negligenciando seus estudos. A cada conquista no jogo, uma dose de dopamina reforçava o comportamento, tornando cada vez mais difícil para João se desconectar e se dedicar a outras áreas da vida.
Outro caso marcante é o de Maria, que encontrava alívio para a ansiedade em compras online. A cada compra, uma onda de prazer e a sensação de controle mascaravam, momentaneamente, seus sentimentos de insegurança. Mas a euforia era passageira, e logo Maria se via presa em um ciclo de compras compulsivas, dívidas e frustração.
Esses casos ilustram como a busca desenfreada por prazer, impulsionada pela dopamina, pode nos levar a comportamentos e vícios que prejudicam nossa saúde mental e bem-estar. Mas, afinal, como podemos encontrar o equilíbrio nesse mundo de excessos e reprogramar nossos cérebros para uma vida mais plena e significativa?
A Dra. Anna Lembke, no livro "Nação Dopamina", nos oferece insights valiosos sobre a importância de três elementos-chave para a recuperação do vício e a busca pelo bem-estar: espaço, tempo e significado.
Espaço: Em um mundo saturado de informações e estímulos, é essencial criarmos espaço para a quietude, o tédio e a autorreflexão. Desconectar-se da tecnologia, reservar tempo para a meditação, o contato com a natureza ou simplesmente não fazer nada pode ser um antídoto poderoso contra a superestimulação e a busca incessante por prazer.
Tempo: Vivemos em uma cultura que valoriza a velocidade e a produtividade, mas desacelerar o ritmo é fundamental para a saúde mental. Priorizar atividades que nos tragam paz e bem-estar, aprender a dizer "não" e se conectar com o momento presente são hábitos que nos ajudam a ressignificar a relação com o tempo e a cultivar a atenção plena.
Significado: A busca por propósito e significado na vida vai além da satisfação imediata proporcionada pela dopamina. Encontrar algo que nos inspire, um trabalho que amamos, um hobby que nos realiza, relacionamentos que nos nutrem ou uma causa que defendemos, nos conecta com valores mais profundos e nos impulsiona em direção a uma vida mais autêntica e gratificante.
Assim como Vijay, o jovem programador mencionado pela Dra. Lembke, muitos de nós podemos nos beneficiar de uma "reprogramação" do nosso sistema de recompensa. Ao criar espaço para a quietude, desacelerar o ritmo e buscar significado em nossas vidas, podemos restabelecer o equilíbrio da dopamina e trilhar um caminho mais saudável e feliz.
Lembre-se, a busca pelo bem-estar é uma jornada e requer paciência, autoconhecimento e a coragem de desafiar os padrões da nossa cultura. Mas com consciência e esforço, podemos reprogramar nossos cérebros e viver uma vida mais plena, significativa e conectada com o que realmente importa.
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Um abraço
Sheila